DAS VESTES DA BOA FILHA DA MACUMBA
É necessário considerar
que nos dias atuais, muito do que se fala de Quimbanda nas redes sociais, do
que se entende sobre o culto, em realidade não expressa a totalidade e muito
menos o escopo dos fundamentos presentes em todas as vertentes. Esse mal
entendido tem ocorrido devido a expressão e mecanização de algumas vertentes
modernas, as quais por meios literários e por palestras on-line, acabaram
ganhando notoriedade e robusta expressão popular. Uma dessas vertentes modernas
é a Quimbanda Luciferiana, uma vertente derivada da terceira onda de
manifestação do culto, como mencionei na última edição da Revista Nganga. E
confundindo as práticas da Quimbanda Luciferiana como inerentes à todas as vertentes,
muitos costumes dela foram adotados por sacerdotes de outras vertentes, assim
como algumas de suas crenças satanistas, luciferianas e anticósmicas, o que
descaracterizou muitas das vertentes de segunda onda de manifestação do culto.
Todavia, essa visão luciferiana, satanista e anticósmica não está inserida nas
vertentes derivadas do tronco tradicional de Quimbanda, aquelas nascidas de
primeira onda como a Nàgô, Malê e Mussurumim.
A ideia de um Maioral e de
Exus de natureza anticósmica – e o que sabemos é que tradicionalmente ocorre o
oposto, ou seja, os Exus são pró-cósmicos – trata-se de uma interpretação
moderna derivada do satanismo e luciferianismo anticósmicos, e não vêm do
tronco da tradição; assim como o uso exclusivo de vestes negras para os rituais,
outra inserção moderna no culto. Em verdade não existe essa regra nas vertentes
tradicionais da Quimbanda; é a partir da Quimbanda Luciferiana que essa ideia começou
a ser disseminada. Os antigos kimbandas utilizavam roupas rubras e/ou
negras nos ritos de Exu, assim como também outras cores, como tecidos
estampados, os quais refletem as africanidades do culto, assim como refletem
também a natureza plural dos espíritos da Quimbanda; afinal, observe o brajá
dos reinos e suas respectivas cores; você não verá dupla dominante de vermelho
e preto apenas. Essas são as cores de um reino apenas. Outros até mesmo ficavam
de branco, isso mesmo, branco não é pertença de culto algum, e quem pensa
assim, pensa pequeno. Uma cor intimamente ligada ao Reino das Almas, onde
veremos miríades de espíritos que trabalham este cromo. Em verdade, era comum
ver os kimbandas utilizando suas roupas comuns ou de gala em seus ritos,
as quais eram substituídas após a possessão do espírito. Mas, assim como a nós
cabem todas as cores, por que não usarmos a cor negra que reflete a força
material dominada pelo Chefe Império Maioral?
Vamos conhecer Quimbanda,
separar seus momentos, separar suas formações e suas ideias. Ideias novas não
mudam práticas antigas, como diz o ditado baiano orelha não passa a cabeça.