QUIMBANDA & MAGIA CERIMONIAL
Por Táta Nganga Kamuxinzela
@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago
Existe um movimento
«africanista» que rejeita, tenta cortar e aleijar a ancestralidade europeia
(ário-hiperbórea) da Quimbanda. O movimento de resgate da «negritude» na
Quimbanda e cultura da makumba
é essencial para a revitalização de muitas raízes, efetivamente. No entanto,
fazê-lo a partir da degradação ancestral europeia não é saudável.
Os Maiorais da
Quimbanda, Lúcifer, Beelzebuth e Ashtaroth, são deidades reverenciadas como
princípios primordiais do cosmos, assim como o foram na Antiguidade e
posteriormente metamorfoseados em demônios pela cristandade. São eles que
«norteiam» o Culto da Quimbanda, quer dizer, são eles, os Maiorais, o Norte
metafísico do culto. O Norte espiritual de um culto sempre orienta todas as
suas relações ancestrais. Uma vez que o Norte espiritual da Quimbanda está
associado a deidades antigas da ancestralidade ário-hiperbórea e que
posteriormente foram demonizadas, de certo que as raízes europeias na Quimbanda
têm profundo impacto no culto.
A Quimbanda foi o culto
afro-brasileiro que mais se associou ao Ocultismo
moderno e a prática da Alta Magia. Na Quimbanda
Mussurumim existe uma linha de trabalho com a magia
cerimonial chamada de cabalá francesa
ou cabalá europeia; na Quimbanda Nàgô os demônios do Grimorium Verum são associados
diretamente aos Exus e Pombagiras.
No podcast Papo na
Encruza (@paponaencruza) realizado em janeiro de 2023 sobre a Quimbanda e suas
relações com a magia cerimonial, tivemos a oportunidade de fazer algumas
comparações entre os Exus e os Espíritos Olímpicos. Diferente das
classificações conhecidas acerca dos espíritos e criaturas espirituais na tradição
teístas judaico-cristã do Ocidente, de onde derivaram a demonologia dos
grimórios medievais, os Espíritos Olímpicos vêm da fase paracelsiana de produção de
grimórios e são, portanto, distintos das classes de anjos e demônios que
comumente conhecemos. Assim como os Exus da Quimbanda, os Espíritos Olímpicos
estão acima de questões morais ou dicotomias sistêmicas (bem e mal, certo e
errado, magia branca e magia negra, mão direita e mão esquerda) que açoitam a
maioria dos sistemas modernos de magia.
Muito embora a fase paracelsiana de produção dos
grimórios permaneça cristã em essência, ela é uma alternativa para que os antigos deuses demonizados sejam
reabilitados como Espíritos Olímpicos. Estes são conectados diretamente as
virtudes dos sete planetas clássicos da magia e, dessa forma, podem ser
considerados deidades planetárias.
Alguns indagam qual a diferença de um Espírito Olímpico para um demônio, pois a
atuação energética de ambos é semelhante. Outros chamam essas deidades
planetárias de demônios. Os espíritos Olímpicos não são demônios! A
classificação usual derivada do teísmo judaico-cristão para demônios são anjos caídos, e os Espíritos
Olímpicos não são ou foram anjos da cosmovisão semita. Eles são os espíritos
que refratam a força planetária indiferenciada sobre o reino da geração,
mudando a realidade de quem com eles pactua. Por terem esse poder de
transformação sobre a realidade, são considerados espíritos
alquimistas.
Na cabalá francesa da Quimbanda Mussurumim, sua linha de trabalho com a magia
cerimonial, o Exu tutelar suplanta a ideia ou a presença do Sagrado Anjo Guardião, que na magia moderna
acabou por se tornar uma estrutura padrão a partir do legado deixado pela Ordem Hermética da Aurora Dourada
e a filosofia mística de thelema, que popularizaram a Magia Sagrada de Abramelin, cujo Sagrado Anjo Guardião trata-se do eixo
central do sistema. Como demonstrei nos dois volumes do Daemonium, tanto a ideia do Exu tutelar na
Quimbanda quanto a ideia do Sagrado Anjo Guardião
no sistema de Abramelin e outros que nasceram dele, assim como a ideia de pacto demoníaco encontrada no Grimorium Verum, derivam da fórmula
mágica universal do espírito tutelar.
Na nova síntese da magia
que vitaliza a magia cerimonial com a seiva viva da magia crioula afro-brasileira
da Quimbanda, permanece a fórmula mágica do espírito tutelar: o Exu tutelar é o
Espírito Chefe do exercício de magia cerimonial.
Se comunicar com
espíritos diligentemente e saber realizar oferendas adequadas para eles é
fundamental na arte prática da magia, em qualquer culto genuinamente mágico. E
é possível criar oráculos para se comunicar com os espíritos de qualquer sistema
de magia, e o homem tem feito isso desde que desenvolveu a noção de que os
espíritos estão por toda parte, sendo possível se comunicar e interagir com
eles. Se o kimbanda mussurumim
deseja, por exemplo, empreender convocações aos Espíritos Olímpicos, as deidades
que refratam as virtudes indiferenciadas dos sete planetas clássicos da magia,
é possível por meio do método oracular desta vertente, cujo espírito tutelar é
Exu Ganga, se comunicar com os Espíritos Olímpicos e saber, através do oráculo,
se eles estão satisfeitos com as oferendas realizadas para reverenciá-los e
pactuar com eles.