QUIMBANDA & MANIPULAÇÃO ENERGÉTICA
Por Táta Nganga Kamuxinzela
@tatakamuxinzela | @covadecipriano | @quimbandanago
Quimbanda é feitiçaria, a
arte de manipular e projetar vetores de força mágica (i.e. energia) através de
bases materiais. Um kimbanda mensura tudo no cosmos em quantitativos
energéticos: as interações e relações pessoais, as paixões, desejos e impulsos
por trás das ações, a atividade sexual, os negócios e compromissos firmados, a
manipulação do oráculo (Ẹriṇ ou Cabalá de
Exu), o feitio de oferendas e feitiços. Absolutamente
tudo se mensura pela equalização das forças envolvidas, porque um kimbanda trata-se de um manipulador de
energia! Isso não é fácil de conquistar e levamos a vida toda para aperfeiçoar
essa arte.
A Trindade Maioral
(Beelzebuth, Lúcifer e Ashtaroth) como descrevi no segundo volume do Daemonium,
são antigas forças cósmicas que estiveram envolvidas nos processos de formação
do cosmos e no desenvolvimento da consciência humana, sendo elas o Sol, o Fogo
Mercurial e a Lua. Os símbolos dessas três forças estão presentes no Brasão
Imperial do Chefe Império Maioral, e sua interação e a compensação energética
que dela deriva demonstra essa característica singular de equilíbrio das forças
na Quimbanda nas ações do Exu Beelzebuth, Exu Lúcifer e Pombagira Rainha das
Sete Encruzilhadas (ou em algumas famílias Exu Rei das Sete Encruzilhadas). As
implicações alquímicas desse processo eu expliquei no segundo volume do Daemonium
e aqui teço mais algumas considerações sobre esses símbolos.
Todas as qualidades
sensíveis (ou virtudes) aparentes do Sol e da Lua como sua cor, temperatura,
formas etc., são simetricamente opostas. Isso os caracteriza como forças que
simbolizam todas as oposições máximas e irredutíveis, modelada pelo esquema de
dois pontos divergentes e equidistantes de um terceiro ponto central: a
consciência humana (Logos/Lúcifer) que os observa da Terra. Desde tempos
imemoriais, a Lua que se levanta e o Sol que se põe, formam o símbolo perfeito
do equilíbrio dos opostos, com o homem (ou fogo mercurial criativo) no meio
como fiel da balança.
O Sol e a Lua, portanto,
são símbolos que evocam a ideia de equilíbrio entre o ativo e o passivo, o
masculino e o feminino, a força centrífuga e a força centrípeta, a força linear
e a força não linear, o Od e o Ob no Caduceu de Mercúrio,
o claro e o escuro, o causal (cosmos) e o acausal (caos) etc., tudo quanto à
cultura chinesa conseguiu exprimir nas ideias de Yin e Yang e a Quimbanda
na manipulação – ou a aplicação da força simbolizada – pelos tridentes dinâmico
e receptivo na ação de Exu e Pombagira. A iconografia de Maioral demonstra esse
embate e interação de forças que delimitam o equilíbrio entre Caos e Ordem em
uma relação de mútua compensação, presente em absolutamente em todas as
circunstâncias e fenômenos ao nosso redor.
Mas este equilíbrio
compensatório entre essas forças nunca é estático. Tão logo ele seja
conquistado, imediatamente seu ponto de convergência desliza, pendendo de um
lado ou do outro, compensando as tensões de cá e de lá, e todo conjunto perde a
simetria. Então é no jogo de desequilíbrio entre as partes ou no equilíbrio dinâmico
dessas forças, que a ação de Exu e Pombagira ocorre. Nenhum equilíbrio depende
apenas de simetria e equidistância, mas também de interação, conflito e
reciprocidade. É quando os opostos se tornam complementares. É por isso que se
diz que os Exus e Pombagiras nascem do Trono Supremo de Maioral como forças
complementares, pelo fato de que em seu Corpo, na Alma do Mundo, essas forças
causais e acausais não são opostas, mas complementares, dando movimento a Luz
Astral.
A iconografia de um mago
portando em mãos o Caduceu de Mercúrio é uma representação do domínio da
força Luni-Solar, símbolo de seu manejo, arranjo e projeção. No dia-a-dia de um
kimbanda esse domínio é simbolizado pelos tridentes (dinâmico e receptivo)
e pelo kimbanda empunhando a sua faca, como uma trindade.
Isso é um símbolo!