ESOTÉRICA: O ESOTERISMO OCIDENTAL
Por Táta Nganga
Kamuxinzela
@tatakamuxinzela |
@covadecipriano | @quimbandanago
Nota: esse texto
é um excerto do terceiro volume do Daemonium: A Quimbanda & a Nova Síntese
da Magia. Para uma melhor compreensão, antes de ler esse texto, leia outros dois
excertos do livro publicado aqui anteriormente: A
Quimbanda no Esoterismo Ocidental e A Quimbanda & o
Ocultismo Moderno, para uma melhor compreensão da matéria.
O RENASCIMENTO DA VISÃO
ENCANTADA DE MUNDO NA MODERNIDADE
Os estudiosos modernos
vêm tentando definir a natureza do esoterismo
ocidental propondo um conjunto de critérios aos quais se poderia recorrer
para decidir se algo pertence ou não a Esotérica.[1] O
exemplo mais famoso e influente vem do pioneiro francês nestes estudos, Antoine
Faivre (1934-2021), um dos mais eminentes estudiosos do esoterismo ocidental que em 1992 ofereceu uma lista de quatro
características intrínsecas do
esoterismo: i. correspondências; ii. natureza viva; iii. imaginação-mediação;
iv. transmutação, ao lado de duas características não intrínsecas (transmissão
e concordância).[2]
Se olharmos mais de
perto os critérios estabelecidos por Antoine Faivre, observaremos que eles
corroboram uma visão encantada do
Cosmos, em contraste com as visões modernas e desencantadas, associadas à ciência pós-cartesiana, pós-newtoniana
e positivista. Sobre essa visão encantada
do Cosmos eu venho explorando desde o primeiro volume do Daemonium,
onde me referi como visão daemônica
ou animada do Cosmos como requisito
básico e fundamental para a prática e realização da magia.[3]
Sua noção de correspondências, no entanto, tem origem
na ideia de simpatia de Plotino:[4] sugere
que todas as partes do Cosmos estão diretamente relacionadas sem a necessidade
de elos intermediários ou cadeias causais, e é, portanto, claramente entendida
como uma alternativa à lógica linear ou instrumental de causalidade. A natureza viva
também se opõe às visões de mundo mecanicistas: significa que o Cosmos é
concebido como um organismo vivo permeado por uma força vital invisível. A imaginação-mediação sugere uma
cosmologia platônica multinível em oposição a um mundo redutível apenas à
matéria em movimento; e sugere não apenas que existem vários níveis sutis de realidade, intermediários entre
os polos do espírito puro e da matéria pura, mas também que podemos ter acesso
a eles por meio da imaginação (que é, portanto, um órgão de conhecimento e não
apenas um fabricante de ilusões, como defende o racionalismo iluminista). Transmutação, finalmente, refere-se a um
processo por meio do qual o homem ou a natureza podem ser transformados em um
estado espiritual mais elevado ou mesmo atingir uma condição divina, a
deificação.
Em suma, o Esoterismo, de acordo com a definição de
Faivre, parece uma alternativa radical às visões de mundo desencantadas que passaram a dominar a cultura ocidental na
sequência da revolução científica, do Iluminismo e da ciência positivista. Para
o próprio Faivre, os protótipos par
excellence do esoterismo ocidental
podem ser encontrados em um movimento do início da cultura moderna –
aproximadamente desde Paracelso no Séc. XVI até à era romântica – o que ficou
conhecido como teosofia cristã e filosofia natural. Assim, se quaisquer
outras correntes religiosas ou intelectuais devem ser vistas como formas de esoterismo depende de quão próximas
estão destes melhores exemplos de
modelos de esoterismo ocidental.
Na prática, isto
significa que o início do período moderno assume maior importância na obra de
Faivre, como a idade de ouro em que o esoterismo
ocidental floresceu como nunca antes ou depois. As fontes antigas e
medievais são reconhecidas como um pano de fundo necessário, e não como
manifestações do Esoterismo por si
só. E o mais importante, permanece um tanto questionável – e nunca totalmente
explicado na obra de Faivre – se as muitas correntes esotéricas ou ocultistas
que se desenvolveram ao longo dos Sécs. XIX e XX até o presente ainda estão
suficientemente próximas do protótipo teosófico-naturafilosófico para serem qualificadas como Esoterismo em tudo. Se a Esotérica
é um pardal encantado que difere claramente de uma vaca desencantada, então
estas formas de Esoterismo
pós-iluministas parecem ser animais híbridos que podem facilmente ser
rejeitados como pseudo-esotericos.
Faivre é o mais
proeminente, mas certamente não o único estudioso que entende o Esoterismo com uma visão encantada de
mundo, oposta às visões de mundo desencantadas da sociedade moderna e
contemporânea, e aponta o início do período moderno como sua idade de ouro. A
partir de uma perspectiva e de argumentos muito diferentes, a historiadora
inglesa Frances Yates (1899-1981) proveu uma análise semelhante com sua
narrativa extremamente influente da Tradição
Hermética no Renascimento.[5]
A Tradição Hermética tal como apresentada por Yates emergiu da
redescoberta e tradução de uma coleção de textos da Antiguidade tardia, o Corpus Hermeticum
do filósofo florentino Marsilio Ficino. Na esteira desta tradução, publicada em
1471, o hermetismo renascentista floresceu durante os Sécs. XVI e XVII com uma
visão de mundo dominada pela magia, pela experiência pessoal e pelos poderes da
imaginação. Ela promoveu um misticismo de afirmação mundial, em consonância com
uma ciência encantada e holística que
via a Natureza como um todo vivo e orgânico, permeado por forças e energias
invisíveis. E, ainda segundo Yates, refletiu uma perspectiva confiante,
otimista e voltada para o futuro que enfatizava o potencial da humanidade para
operar no Mundo utilizando as novas ciências e, assim, criar uma sociedade
melhor, mais harmoniosa e mais bonita.
Tal como o esoterismo ocidental de Faivre,[6] a Tradição Hermética de Frances Yates
floresceu durante o início do período moderno como uma alternativa – ou efeito
colateral – encantada de Mundo oposta
à religião estabelecida e à ciência racionalista. As suas fontes literárias
remontavam à Antiguidade tardia, mas Yates traçou uma linha divisória nítida
entre a Idade Média obscura e o novo
fenômeno de uma bela e elegante magia hermética na cultura renascentista.
De forma mais
contundente e decisiva do que na narrativa de Faivre, ela afirmou que a Tradição Hermética havia chegado ao fim
durante o Séc. XVII com o surgimento da filologia moderna e das ciências
naturais. Mas muitos de seus leitores entusiasmados durante as décadas de 1960
e 1970 deram um passo além. No alvorecer da modernidade, assim entendiam, a
cosmovisão mágica e encantada da Renascença tinha perdido a batalha contra o establishment cristão e científico, após
o que a própria memória da sua existência tinha sido suprimida e quase
destruída. Para alguns deles, a recentemente redescoberta Tradição Hermética tornou-se uma fonte de inspiração na sua própria
luta com o establishment político,
religioso e científico contemporâneo, e nas suas tentativas de reencantar o Mundo, trazer a imaginação de volta ao poder. Isto
tornou a narrativa de Yates altamente relevante para as preocupações
contemporâneas. Muitos daqueles que estiveram envolvidos ou simpatizaram com os
novos movimentos mágicos ou espirituais que floresceram desde a década de 1960,
começaram a olhar para o hermetismo
renascentista como seus próprios predecessores.
Yates e Faivre são os
exemplos mais proeminentes de uma abordagem que faz do Esoterismo o modelo de uma visão de Mundo encantada, que floresceu desde a Renascença até o Iluminismo. Uma
implicação importante é que, por definição, o Esoterismo ou Esotérica
deve estar em conflito com o mundo secular e nunca pode ser visto como uma
dimensão integral da cultura e da sociedade modernas. Mesmo que consiga
sobreviver nas condições pós-iluministas, só o poderá fazer enquanto uma contracultura antimodernista empenhada
numa fuga da razão, em última
análise, desesperada. Na verdade, a década de 1970 abalisou o surpreendente
boom de novos movimentos religiosos e correntes ocultistas durante esse período:
a tese da secularização dominante
afirmava que a religião e a magia não poderiam ter futuro em uma era de ciência
e de crescente racionalização; assim este Renascer
da Esotérica teve de ser rejeitado como uma manifestação de irracionalismo
e de um anseio fútil por um passado romantizado.
O OCULTISMO PÓS-MODERNO
Não há dúvida de que as
manifestações modernas e contemporâneas do Esoterismo,
desde o Séc. XVIII até o presente, proclamam ideias e convicções que têm a sua
origem histórica em modelos pré-iluministas. Encontraremos muitos exemplos a
seguir. Mas seria um erro presumir que estas visões de mundo tradicionais
persistiram simplesmente como sobreviventes
do passado, continuando na sua forma original sem serem afetadas ou alteradas
pelo impacto das tendências e desenvolvimentos modernos: que os conceitos
mágicos, esotéricos ou ocultistas são inerentemente estáticos e resistentes à mudança é um clichê
positivista que tem sido repetidamente refutado.[7] Pelo
contrário, as ideias e visões de mundo herdadas dos períodos pré e do início da
modernidade foram completamente transformadas a partir do Séc. XIX, sob o
impacto de novos desenvolvimentos culturais e intelectuais na sociedade
secular, com resultados novos, surpreendentes e sem precedentes.
Como vimos no primeiro
modelo de cognição, a visão encantada de Mundo implica que tais formas de Esoterismo pós-iluministas nunca podem
ser mais do que deformações de segunda mão, derivadas ou defeituosas da real Esotérica: ao comprometer-se com o
pensamento secular, a integridade e a autenticidade do Esoterismo devem necessariamente ser prejudicadas e, portanto, suas
manifestações modernas e contemporâneas ficam aquém da plena identificação com
o primeiro modelo e seus exemplos prototípicos. Mas é perfeitamente possível
inverter o argumento. Afinal de contas, ou pelo menos é o que se pode
argumentar, foi apenas depois do Séc. XVIII que o Esoterismo ou o Ocultismo
começou a emergir como um fenômeno social por direito próprio. Antes dessa
época, se tratava apenas uma tradição intelectual manifestada em escritos
eruditos e populares; mas só agora assumiu a forma de organizações e redes
sociais reais que começaram a competir com as igrejas estabelecidas em um novo mercado pluralista de religiões.
Desta perspectiva,
precisamente o Ocultismo, tal como se
manifesta na cultura moderna e contemporânea, é um fenômeno religioso
multicultural e, portanto, é dentro dele que podemos esperar encontrar os melhores exemplos ou protótipos daquilo
que se conveniou chamar de esoterismo
ocidental. Os períodos anteriores podem ser interessantes para fornecer
algum contexto histórico, mas não são cruciais ou centrais para a compreensão
do Ocultismo; e quaisquer critérios
formais para definir e demarcar o campo devem ser derivados das suas
manifestações pós-iluministas.
As declarações
programáticas desta posição são muito mais difíceis de encontrar do que no caso
do primeiro modelo, porque os seus principais representantes tendem a vir das
ciências sociais e raramente estão muito interessados em contextualizações
históricas mais amplas. Seu foco principal está no que existe aqui e agora; e
não está onde a coisa pode ter vindo. Em outras palavras, não estamos lidando
aqui com qualquer teoria ou convicção explícita (ou mesmo implícita) sobre a
Natureza e o desenvolvimento histórico do Esoterismo
antes e depois do Iluminismo, mas simplesmente com um interesse em estudar o Ocultismo como um fenômeno de cultura
popular no mundo moderno e contemporâneo.
Neste segundo modelo, o Esoterismo ou o Ocultismo não funciona como objeto de nostalgia de uma visão de
mundo encantada, perdida ou esquecida, mas como uma dimensão do aqui e agora,
com implicações para o futuro. Quando os sociólogos começaram a estudar o Ocultismo durante as décadas de 1960 e
1970, eles o viram como um fenômeno surpreendente e um tanto desconcertante de desvio social preocupado com
reivindicações anômalas de
conhecimento que pareciam refletir um movimento de rebelião juvenil contra a
ciência e a religião estabelecida. Eles tiveram dificuldade em ver algo além de
uma reação sincera, mas obviamente fútil, contra a racionalização e a marcha da
modernidade. Nos anos mais recentes, contudo, sociólogos e historiadores da religião
começaram a ver o Ocultismo como uma
manifestação significativa da modernidade. As previsões sobre o desaparecimento
iminente da religião revelaram-se prematuras, para dizer o mínimo; e tornou-se
cada vez mais evidente que as correntes esotéricas ou ocultas são uma
característica permanente da cultura moderna. Elas existem desde o nascimento
da modernidade e, gostemos ou não, estão aí.
Nos estudos acadêmicos
atuais, o Ocultismo já não é visto
como uma anomalia marginal e irritante – algo que não deveria estar lá – mas, pelo contrário, como uma manifestação
altamente importante de como a religião está continuamente a ser reinventada
sob novas tendências históricas e condições sociais. Por exemplo, a rápida
expansão das novas tecnologias de informação e comunicação desde a década de
1990, e o desenvolvimento espetacular dos novos meios de comunicação durante o
mesmo período, parecem agora resultar num Ocultismo
pós-moderno que, entre outras coisas, confunde de forma divertida, mas
deliberada, as fronteiras entre a ficção e a realidade. Deve-se notar que, nos
estudos emergentes sobre tais tópicos, as noções de oculto tendem a ser usadas de forma vaga, e principalmente como uma
abreviatura para qualquer coisa que toque o psíquico ou o paranormal: por
exemplo, os estudiosos da religião estão agora apontando para o fascínio pelos superpoderes nos quadrinhos populares ou
nos jogos de RPG como um exemplo significativo de como o sagrado se manifesta na cultura popular contemporânea.
Longe de se referir a
qualquer tradição histórica específica, então, o Ocultismo tende a ser entendido em grande parte dos estudos atuais
apenas como um termo moderno e conveniente para fenômenos estranhos e
experiências radicais que (presumivelmente) foram relatados em todos os tempos
e lugares e estão ainda conosco na sociedade moderna e contemporânea.
Essa investigação é
parte importante do estudo do esoterismo
ocidental – mas ainda como uma dimensão apenas. A fraqueza essencial do
primeiro modelo delineado acima (o do Renascimento
da Visão Encantada de Mundo na Modernidade) é que ele não leva a sério as
formas modernas e contemporâneas de Esoterismo
em seus próprios termos: ele as percebe apenas em relação ao seu período
pré-iluminista, são antepassados superiores em comparação. A fraqueza do
segundo modelo reside na falta de profundidade histórica. Leva a sério o Ocultismo moderno e contemporâneo nos
seus próprios termos, mas não reconhece que as raízes e origens de qualquer
fenômeno são uma parte inextricável do próprio fenômeno. Estudar o Ocultismo sem colocá-lo em uma
perspectiva histórica é como reduzir a pandemia a um ato genocida de Bolsonaro,
ponto final. Ao mesmo tempo que rejeitamos a história do radicalismo islâmico
ou da política colonialista ocidental como irrelevantes para a compreensão do
que foi e porque aconteceu, da mesma forma (contra a tendência anti-histórica
do segundo modelo) não conseguiremos compreender o Ocultismo a menos que integremos o seu estudo em um contexto
histórico mais amplo; mas ao fazê-lo (contra a tendência antimoderna do
primeiro modelo) deveríamos levá-lo tão a sério como os seus antepassados
pré-iluministas.
A TRADIÇÃO ESOTÉRICA
UNIVERSAL
De acordo com uma
terceira e muito influente perspectiva da Esotérica,
o termo está associado àquelas tradições internas,
secretas ou adjacentes às instituições religiosas estabelecidas. Essa correntes internas estariam preocupadas
com uma dimensão espiritual universal da realidade, portanto, esotérica, em
oposição aos dogmas das religiões exotéricas, i.e. externas, destinadas as massas.
Esta perspectiva se
aproxima mais do significado original do adjetivo esotérico na Antiguidade tardia, quando se referia a ensinamentos
secretos reservados a uma elite espiritual, como as irmandades pitagóricas ou
alguns cultos de mistérios. Os ensinamentos exotéricos, de acordo com esta
perspectiva, destinam-se às massas sem instrução que podem ser mantidas
satisfeitas com a mera observância de rituais e sistemas de crenças dogmáticos.
Por baixo da superfície da religião convencional, contudo, existem verdades
mais profundas que são conhecidas apenas pelos iniciados nos verdadeiros
mistérios da religião e da filosofia.
De acordo com este
modelo, a verdadeira espiritualidade esotérica
deve, em última análise, ser única, independente das circunstâncias sociais,
históricas ou culturais. Independentemente da tradição em que tenha sido
criado, aqueles que recusam contentar-se com as aparências exteriores e os
sistemas dogmáticos limitados serão sempre capazes de encontrar acesso à
verdade universal sobre a natureza do mundo, da divindade e do destino humano
ao qual todos os grandes místicos e professores espirituais têm se referido.
Portanto, o esoterismo ocidental é
apenas uma parte de um domínio muito mais amplo: os ensinamentos esotéricos de todas as religiões e
culturas não-ocidentais, como o hinduísmo, o budismo, o xamanismo e assim por
diante, devem, em última análise, apontar para a mesma realidade esotérica sob as aparências
superficiais.
Na moderna ciência da
religião, o estudo das correntes históricas em busca dessa dimensão universal interna é tecnicamente conhecido como religião.[8] Com vários
graus de ênfase, e às vezes com considerável sutileza e sofisticação, esta
agenda influenciou fortemente a forma como a religião foi estudada após a
Segunda Guerra Mundial, especialmente nos Estados Unidos sob a influência de
Mircea Eliade (1907-1986) e sua escola; e alguns dos estudiosos mais influentes
do esoterismo ocidental – desde Henry
Corbin (1903-1978) e Antoine Faivre nos seus trabalhos anteriores, até autores
contemporâneos como Arthur Versluis (1959) e Nicholas Goodrick-Clarke
(1953-2012) – foram claramente inspirados por agendas religiosas. Mas embora o
estudo do esoterismo ocidental deva
muito ao trabalho destes pioneiros, a corrente dominante dos estudos começou a
afastar-se das abordagens religiosas desde a década de 1990 e cada vez mais
desde o início do Séc. XXI. A razão é que essa perspectiva das dimensões internas, que de uma forma ou
de outra está subjacente a todas as formas de religiosidade, tem algumas
implicações altamente problemáticas.
Mais importante ainda (e
mais obviamente), baseia-se na convicção de que realmente existe uma dimensão
universal, oculta e esotérica da realidade. Os métodos
acadêmicos, no entanto, são exotéricos
por definição e só podem estudar o que está empiricamente disponível aos
observadores, independentemente das suas convicções pessoais: a academia não
tem instrumentos para obter acesso direto à natureza verdadeira e absoluta da
realidade que se afirma existir de acordo com a este modelo da Esotérica, e não possui metodologias
para verificar ou falsificar a afirmação de que tal realidade existe em
primeiro lugar. O Absoluto ou o Divino simplesmente não é um objeto de pesquisa
possível: tudo o que os estudiosos podem fazer é estudar as crenças, convicções
ou teorias que foram formuladas sobre ele, mas, como estudiosos, não estão
qualificados para avaliar a sua verdade ou falsidade. Inicialmente, muitos
estudantes da Esotérica consideram
isto decepcionante e frustrante, mas é uma simples questão de reconhecer as
limitações do que a investigação acadêmica pode ou não fazer.
Alguns acadêmicos
afirmam que, uma vez que a ciência e os estudos não podem descobrir o Divino ou
o Absoluto, ele não existe. Contudo, é logicamente mais consistente admitir que
simplesmente não sabem – e não podem saber. Esta posição, que não afirma nem
nega que possa ser possível descobrir a verdadeira natureza da realidade por
outros meios que não a ciência e a erudição (tais como técnicas espirituais ou
a contemplação mística), é tecnicamente conhecida como agnosticismo metodológico.
[1] O termo Esotérica é
sinônimo para esoterismo e esoterismo ocidental.
[2] Antoine Faivre. O
Esoterismo. Papirus, 2013, pp. 17-22.
[3] No primeiro volume do Daemonium
eu demonstrei que a visão encantada
do Cosmos depende de um estilo de vida daimônico,
i.e. da percepção e comunicação com os espíritos. Ao mesmo tempo, a comunicação
com espíritos é o requisito fundamental para operação da magia, porque ela
opera por meio da agência dos espíritos. Veja o texto Quimbanda,
Astrologia, Goécia & a Nova Síntese da Magia.
[4]
Wouter J. Hanegraaff.
Esotericism and the Academy. Cambridge, 2013.
[5] Frances A. Yates. Girdano
Bruno & a Tradição Heremética. Cultrix, 1995.
[6] Veja Antoine Faivre. Access
to Western Esotericism. SUNY Press, 1994. O Esoterismo. Papirus,
1994.
[7] Wouter J. Hanegraaff. Esotericism
and the Academy. Cambridge, 2013.
[8] Wouter J. Hanegraaff. Esotericism
and the Academy. Cambridge, 2013.