A DIMENSÃO MAIS PROFUNDA DO SACRIFÍCIO

O sacrifício é um ofício hierático que insere a alma na demiurgia do Cosmos. Essa inserção está conectada diretamente a deificação da alma que, gradualmente recebe dos deuses, os Gangas da Quimbanda, sua força e luminosidade. O sacrifício é uma...

 

Por
Táta Nganga Kamuxinzela

@tatakamuxinzela
| @covadecipriano | @quimbandanago

 

Nos meus escritos sobre o sacrifício tenho
procurado demonstrar a sua dimensão mais profunda, principalmente no que
concerne seu papel na deificação da alma do kimbanda. No meu texto O
Altar na Quimbanda Come
, disponível no blog do site www.quimbandanago.com, procurei
salientar a natureza dos altares como «corpos vivos» dos deuses, os Gangas da
Quimbanda. Ao sacrificar animais aos deuses da Quimbanda, um paradoxo teúrgico
nasce: o altar sacrificial, i.e. os assentamentos dos Gangas, onde a vida
mortal é oferecida aos deuses, é também uma imagem da alma alienada no reino da
geração e que se liberta do cativeiro da dualidade por meio do sacrifício de
sangue, porque recebe dos deuses, no ofício hierático da imolação, suas
virtudes, que enriquecem de luminosidade a alma de quem a eles oferenda,
dissipando gradativamente a visão turva da dualidade. Nesse caminho a alma
gradativamente se torna um «algoeides».
 

Como sempre falo: se no momento do sacrifício algo
não morre em você, então o trabalho está sendo ineficaz. À medida que os kimbandas
desenvolvem uma maior capacidade mediúnica de receberem as virtudes dos Gangas,
eles entram em uma dimensão mais profunda do sacrifício, simbolizada pelo altar-assentamento.
Os sacrifícios de vida mortal aos deuses da Quimbanda são um reflexo inverso do
sacrifício dos deuses de sua vida imortal no altar-da-mortalidade, quando tomam
a forma do corpo do assentamento. É então que os kimbandas experimentam
a profundidade do deste paradoxo: eu, um ser mortal, ofereço sacrifício aos
deuses; mas, ao mesmo tempo, os deuses sacrificaram sua divindade ao se
manifestarem mortalmente através de um corpo material, o altar.
 

Isso responde sua pergunta: por que sacrificar aos Exus e Pombagiras?
Na Quimbanda tudo é troca: nós sacrificamos a vida aos Gangas porque eles
sacrificaram sua divindade por nós ao serem corporificados na matéria, com a
única intenção de nos dar caminhos no reino da geração.