A QUIMBANDA FRANKENSTEIN & O KIMBANDA MACACO DE THOTH
Por
Táta Nganga Kilumbu
@quimbandamarabo
| @tatakilumbu
INTRODUÇÃO
O termo Quimbanda
Frankenstein refere-se a uma prática delineada a partir de enxertos que vêm
de toda parte, fundamentos retirados de vertentes distintas ou de diversas casas
de àṣẹ da cultura afro-brasileira, como os candomblés e a encantaria,
e que não fazem parte do sistema original. É uma prática comum entre os bandas
de casa que, sem serem iniciados dentro de uma vertente tradicional ou
moderna com um sistema coeso de formação magística, colecionam práticas-rituais
ou tecnologias mágicas como oráculos que, originalmente, foram tiradas de seus
contextos originais. Como se diz no Rio de Janeiro: um samba de crioulo
doido.
O termo macaco de thoth
refere-se a um imitador, fazendo alusão ao babuíno que acompanhava e
emulava o deus da escrita e da magia do antigo Egito, Thoth. O deus era escriba
dos deuses, e o macaco o imitava escrevendo; o deus era o patrono da escrita,
magia e ciências, o macaco, por outro lado, embora o imitasse em tudo, não era
nada disso. O kimbanda macaco de thoth, portanto, é àquele que imita os
genuínos kimbandas e ngangas que receberam a Quimbanda de um
mestre iniciador fidedigno.
A Quimbanda Nàgô é
fruto da Macumba carioca. Ela nasce para preservar e atualizar as práticas
mágicas ancestrais da Macumba, condenadas e expurgadas das umbandas espíritas-embranquecidas.
É, portanto, um culto do Sudeste do Brasil e não tem raízes, como supõe o macaco
de thoth, no Norte do Brasil.
Todo cuidado é pouco na
internet, onde águas limpas são contaminadas por esgotos!
A
QUIMBANDA FRANKENSTEIN
Quando falamos de Religião
na contemporaneidade, trata-se de um assunto que tende cada vez mais ficar
complexo, pois como o mundo vai evoluindo, algumas situações também se
iniciam, como as novidades que dentro de um segmento religioso não
existiam até determinado momento. Ao procurar um sacerdote (nganga) ou
mestre (táta-nganga) de Quimbanda, a grande maioria das pessoas o faz pelo
valor, pela virtude, pelo peso espiritual e social que aquele kimbanda
representaria em sua vida, pelo conhecimento que possui; mas não é possível mensurar
isso de forma tão linear e precisa, e às vezes compramos gato por lebre.
Entenda que o processo para atingir o grau sacerdotal dentro da Quimbanda exige
um árduo caminho de busca pelo conhecimento e a recepção de fundamentos
específicos da tradição. E mesmo após a maestria, a jornada de conhecimento
continua, porque são escolas distintas. A Quimbanda possui a escola dos noviços,
a escola dos adeptos, a escola dos sacerdotes e a escola dos mestres, porque ela
é como um caldeirão sem fundo: nunca paramos de aprender. Se ficarmos um ano
inteiro, todos os 365 dias do ano sentados aos pés do mestre, não conseguiríamos
aprender tudo; não conseguiríamos extrair toda carga noética de símbolos
e significados do culto. É essa relação de busca e aprendizado aos pés do
mestre, a recepção da corrente viva da Quimbanda, e o que leva o investimento
de tempo, a busca de maior Valor na Quimbanda.
Hoje com a expansão das
redes sociais, o culto da Quimbanda adentra a esse processo de Valor x Dinheiro,
onde muitos dos que buscam um templo de Quimbanda para resolver suas pendências
ou mesmo crescer dentro da religiosidade do culto, o fazem por razões
comerciais apenas. Através desse tipo de caráter fraco, a Quimbanda acaba se
tornando uma ferramenta comercial e mercantil, pois os que assim o fazem não têm
os valores intrínsecos, as virtudes sacerdotais (noéticas) necessárias a
oferecer, porque não receberam de fato. Eles pagam pelos títulos, mas não os
possuem de verdade; são reis que não possuem majestade da nobreza. No ímpeto da
troca de dinheiro para atingir o que buscam, eles fazem da Quimbanda um self-service
onde o que for pego se paga e leva, sem que se conheça profundamente, em níveis
energéticos e mágicos, a força atuante dos Gangas na vida espiritual e/ou secular.
Dentro das vertentes tradicionais
(Nàgô, Mussurumin, Malê etc.) não existe a feitura direta
do profano não-iniciado ao cargo máximo de táta-nganga. Isso, sob a
perspectiva tradicional das vertentes de primeira onda, é loucura. Uma
criança não sai andando, falando e escrevendo do ventre de sua mãe; ela precisa
de tempo e maturação para fazer isso tudo. É notório que muitos aspiram à
Quimbanda como fonte de renda apenas, e não como uma busca mágico-religiosa
genuína; esses novos kimbandas estão aí mais pelo dinheiro que Exu
pode trazer do que exatamente pelo amor e devoção ao sagrado diabólico,
pelo respeito aos seus Exus e a jornada pela deificação da alma. Afinal, quem
escolhe preço não dá valor a caminhada de seu mestre, ainda mais por se saber
que a Quimbanda não é assistencialista. Caridade habita as umbandas, igrejas
etc.
E assim hoje a Quimbanda
passa pelo processo da deturpação de sua imagem; deturpação essa que nem sempre
ocorre pelas mãos de sacerdotes e mestres como alguns tentam apontar, porque
independente do que o outro faça em sua casa, eu ou qualquer mestre achando
coeso ou não, é casa alheia e ninguém tem que se meter. Porém, é essa busca de catar
fundamentos aqui e ali, dos candomblés, catimbós, encantarias,
umbandas e quimbandas etc., como diz o ditado carioca, atrás do
precinho mais baixo, que muitas vezes vidas são chafurdadas; porque quem sai
misturando tudo, não encontra nada, apenas congrega forças mágicas distintas
sem as adequações energéticas necessárias para equilibrar e fazer prosperar a
vida. Os fundamentos da Quimbanda Nàgô levam ao progresso em todas as
áreas porque seus fundamentos são estruturados de forma a construírem, no bojo
de seu conjunto e evolução dentro do culto, harmonia, vitalidade e prosperidade
para as raízes, galhos e folhas da árvore ancestral de cada adepto.
Se você escolheu alguém
como seu mestre, e no primeiro momento se consultou com as sete freguesias
sobre qual mestre fará mais em conta, é porque se trata de um fraco que
não merece, de verdade, o mestre que escolheu. Quem nasce para Quimbanda sabe
que Exu proporciona dinheiro; sabe que é um culto que demanda investimento de
dinheiro, porque não se trata de imagem e vela apenas. Os que buscam iniciação
mais em conta são os futuros mestres que causarão destruição da imagem e
reputação do culto: um mestre de Quimbanda Frankenstein, um mestre do samba
do crioulo doido.
Esse tipo de mestre é
aquele que você adentra a casa dele, e o culto máximo dele ao seu Exu será
feito de uma forma singular em que terá a mistura de tudo onde ele passou e
percorreu, como nunca teve força de seguir um caminho único, teve que se deitar
às bizarrices e sandices de sair acrescendo os fundamentos mais baratos
ao que recebera em dado momento, pois em sua mente Exu não merecia o melhor,
mas o mais barato. É onde vemos adepto bebendo Royal Salute e Exu bebendo
cachaça corote, charuto da mais baixa linha, e frangos de leite, ao invés de
galos formados. A decadência da Quimbanda surge nos fracos que querem se tornar
kimbandas, mas esquecem que Quimbanda não tem lugar para fracos e
infantis: aqui eles apenas serão tragados pelo culto como uma forma vampírica
de alimentar até mesmo a egrégora que se pretende pertencer.